MOLIÉRE: drama historico original portuguez em 5 actos - D. António da Costa de Sousa de Macedo




Macedo, António da Costa de Sousa de 
- MOLIÉRE: drama historico original portuguez em 5 actos
Lisboa: Imprensa Nacional, 1851.
94 p. ; 21 cm.
Encadernação recente; conserva as capas de brochuras com pequenos defeitos e pontos de acidez; ex-libris armoriado; miolo muito limpo.
Segunda obra do autor.
Nota descritiva
Representada no início de 1851 no Teatro Nacional D. Maria II, o texto, logo publicado, faz-se acompanhar de um prefácio autógrafo explicativo das opções do dramaturgo: trata-se de uma nova tentativa de género - a comédia-drama. Apoiando a pertinência deste "novo género", escreve o crítico da Semana Teatral, a propósito da representação deste texto: "A tragédia caducou - o drama aborrece - só a comédia ainda vive, mas como uma parasita - sustentando-se da música." E continua:
"Molière é um dos dramas mais completos que enriquecem a nossa literatura: a sua linguagem é, em geral, fácil, correcta e algumas vezes poética. O autor, fundindo a verdade histórica no molde da verdade dramática, cumpriu com um dos mais importantes misteres do poeta deste género. Molière é um homem eminentemente histórico - rei da comédia, autor, patenteou à irrisão pública os vícios da sociedade de então [...]. Mas se, como actor, ria e fazia rir, como homem sofria e sofria muito. Ele amava Armândia [sua própria mulher] com o amor puro e exaltado dum poeta, e nutria por ela, em segredo, os mais pungentes ciúmes. Molière ria nos lábios e gemia no coração - era a dor personificada vestida com as galas da alegria. É este o pensamento filosófico do drama." (6 Fev. 1851)
Bom exemplar.
Muito invulgar.
1ª edição
€35.00
Iva e portes incluídos.

Sousa de Macedo (D. António da Costa de).
n. 21 de novembro de 1824.
f. 17 de janeiro de 1892.
Moço fidalgo com exercício no Paço, comendador da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa; bacharel formado em direito pela Universidade de Coimbra, secretário geral do governo civil de Leiria, deputado, 1.º oficial da direcção geral de Instrução Pública do ministério do reino, escritor muito distinto, etc. Nasceu em Lisboa a 21 de novembro de 1824, onde também faleceu a 17 de janeiro de 1892. Era filho do 1.° conde de Mesquitela, D. Luís da Costa de Sousa de Macedo e Albuquerque, e da condessa, sua mulher, D. Maria Inácia de Saldanha Oliveira e Daun.
Fez os seus estudos de instrução secundaria no colégio do Dr. Cicouro, ao tempo o mais conceituado colégio de Lisboa. Passou depois a Coimbra e fez os exames preparatórios na universidade, matriculando-se em outubro de 1842, aos dezoito anos de idade, na faculdade de direito. Fora estudante distinto no colégio do Dr. Cicouro, e na universidade também, muito se evidenciou pelo seu talento e aplicação. Em 1849, declarando-se a guerra civil que fez transformar os académicos em guerreiros, e guerreiros que deram que falar de si pela sua bravura e heroicidade, D. António da Costa também se alistou no batalhão académico, que se organizou. Feita a convenção de Gramido em 30 de junho de 1847, e reaberta a universidade em agosto seguinte, D. António da Costa voltou a continuar os seus estudos, tomando o grau de bacharel no ano seguinte.
Em 1851 encetou a sua carreira administrativa sendo nomeado secretário-geral do distrito de Leiria, e foi aí que ele começou a sua grandiosa obra da instrução popular, fundando o Centro promotor de instrução popular, que tantos serviços podia prestar; que se inaugurou com tão grande entusiasmo, e que infelizmente enfraqueceu e morreu depois do seu ilustre fundador e presidente D. António de Costa sair de Leiria. Além desse centro promotor, D. António da Costa assinalou a sua passagem pelo governo civil daquele distrito, fundando o jornal O Leiriense, cujo primeiro número saiu no dia 1 de junho de 1854. Em 1856 foi exonerado a seu pedido do lugar de secretário geral do distrito de Leiria, tendo deixado da sua administração um trabalho muito notável, que ofereceu a D. Pedro V, a Estatística administrativa de Leiria, que é uma obra prima no seu género. Aquele distrito não se esqueceu dos serviços e da gratidão que devia a quem tanto trabalhara pelo seu engrandecimento, e nesse mesmo ano o elegeu deputado às cortes, na legislatura de 1857-1858, onde D. António tomou assento no grupo chamado independente. No ano de 1852 havia sido chamado para acompanhar a rainha D. Maria II, na sua visita ao norte, na qualidade de secretário administrativo do presidente do Conselho de Ministros, que era então o marechal duque de Saldanha. Criada em 1859 no Ministério do Reino a direcção geral de Instrução Publica, foi D. António da Costa um dos candidatos ao concurso para 1.º oficial da nova direcção e despachado para esse lugar por decreto do 12 de janeiro de 1860. No mesmo ano foi nomeado comissário régio do Teatro de D. Maria II, lugar que exerceu desde agosto de 1860 até junho de 1861.
Em 1870, quando em 15 de maio se deu o movimento revolucionário promovido pelo marechal Saldanha, e se formou o ministério, presidido por ele, o qual ficou conhecido pelo nome de ministério dos cem dias, D. António da Costa foi chamado para gerir a pasta da marinha, e decretada em 22 de junho desse ano a criação do ministério da Instrução Pública, foi D. António da Costa feito titular dessa pasta, com aplauso de todo o país, que reconhecia a especial e excepcional competência do novo ministro, que fora sempre um denodado propagador da instrução popular. E de facto, D. António da Costa no espaço de sessenta e nove dias, que tantos foram os que durou o novo ministério, fez profundas reformas, prestou relevantes serviços à instrução pública, promulgando o decreto da liberdade do ensino superior, da reforma da instrução primária, das bibliotecas populares, das escolas normais, da reorganização do teatro nacional, etc. Em 29 de dezembro de 1881 foi encarregado por el-rei D. Luís de estudar e coligir elementos para a reforma da imprensa da universidade. Em 1886, D. António da Costa, já muito adoentado, viu-se obrigado a pedir a aposentação do cargo de chefe da repartição de instrução superior que ocupava no Ministério do Reino. Mais tarde foi-se-lhe agravando a doença, até que o vitimou.
São numerosos os livros que deixou publicados, dos quais mencionaremos os seguintes: As minhas saudades, Coimbra, 1844; é uma pequena colecção de poesias oferecidas ás senhoras lisbonenses; Moliére, drama histórico original português em 5 actos, Lisboa, 1857; acerca desta composição deve ler se o juízo crítico, que vem na Revista Universal Lisbonense, vol. III da 2.ª série, pág. 272; Estatística do Distrito Administrativo de Leiria, Leiria, 1855; dividida nas seguintes partes: 1.ª População; 2.ª Industria; 3.ª Administração financeira; 4.ª Beneficência; 5.ª Instrução publica; 6.ª Justiça criminal; com 53 mapas ilustrativos; Adolfo e Virgínia, ou a Festa Pastoril, poema campestre, inserto no Ramalhete, tomo V, 1812, pág. 159 e seguintes, assinado só com as iniciais D. A. da C; Três mundos; No Minho; Memória sobre a instrução primária em Portugal; foi publicada anónima, na Revista Académica de Coimbra, 1845, de pág. 311 a 358; O Casamento civil: resposta ao sr. Alexandre Herculano, Lisboa, 1865; 2.ª edição, 1866; O Casamento civil perante a Carta Constitucional, segunda resposta ao sr. Alexandre Herculano, Lisboa, 1865; O Casamento civil perante os princípios, terceira resposta idem; no mesmo ano; Auroras da instrução popular; Necessidade dum ministério de instrução publica; Instituição de ouro; O Cristianismo e o Progresso; Historia do Marechal Saldanha; Historia da Instrução popular em Portugal, Porto, 2.ª edição, 1900; Ao meu pais, um folheto documentado, tendo por fim justificar-se duma arguição da comissão de inquérito ás secretarias, que o acusava de faltar um largo período nos trabalhos burocráticos, Lisboa, 1880; etc. Tem uma extensa nota histórica e biográfica de Júlio César, na versão dos Fastos, de Ovídio, por António Feliciano de Castilho, no tomo II, de pág. 621 a 650. Colaborou também nalguns jornais políticos e literários de Lisboa e Coimbra, etc. Entre manuscritos que deixou, encontrou-se uma obra completa, pronta para entrar no prelo, o seu último trabalho, A mulher em Portugal.