Olo, Kiesse (pseud.)
- OS REIS DO KONGO: FAVOS DE MEL:
SALALÉ TRÊS TRÊS,
Angola: Mwana Afrika, 2016.
272 p. : il. ; 24 cm - Brochado.
Bibliografia: p. 270-272
Exemplar novo.
1ª edição
€18.50
Iva e portes incluídos.
Nota: capítulo Moedas de Angola, p. 127-157.
Livro “Os Reis do Kongo-Angola” apresentado na UCCLA
(...) Para Vitor Ramalho “este livro transporta-nos para o nosso imaginário coletivo do encontro de culturas entre povos e países, e regiões diversificadas, e o Reino do Kongo marcou muito, desde a primeira hora, a relação com os portugueses”.
O Secretário-geral relembrou os Descobrimentos e a relação “amistosa entre o reino de Portugal e o reino do Kongo”, assim como o facto de a “própria capital ter sido batizada por São Salvador do Kongo, hoje M’ Banza Kongo”, cidade associada da UCCLA.
A autora no seu livro, de acordo com Vitor Ramalho, aborda a realidade do reino do Kongo “suportada na ancestralidade das suas relações familiares e estamos gratos por revisitar esta memória” tão importante para o futuro. “Transporta-nos, na segunda parte do livro, para o cunho das moedas que circularam em Angola, ancestrais” e na sua poesia “releva muito a terra, das relações afetivas, que são parte constante de toda a nossa vida, e a entrecruza, esta relação poética, esta relação afetiva, com a circunstância de ter tido uma proximidade com a terra, as referências sistemáticas à família, ao pai, a origem do próprio apelido”.
Para Eugénio Costa Almeida, investigador do ISCTE-IUL que apresentou o livro, Rosa Mayunga sendo “uma cidadã do mundo, filha de África, angolana de umbigo” apresenta uma obra que “flui o amor do silêncio que jorra o fluxo de um doce favo de mel” como é referido no exórdio do livro (por João Xavier Jorge).
Esta obra de Kiesse é “um tempo, um misto de prosa e poesia ou, mais concretamente, uma escorreita prosa poética complementada por uma sessão de poesia de amor e intervenção.” A autora “dá-nos uma completa visão da cultura, dos usos, dos costumes do Reino do Kongo, sem nunca deixar de fazer corresponder a ancestralidade do magnífico” reino de Angola.
Rosa Mayunga agradecendo o acolhimento da UCCLA para a apresentação da sua obra, convidou todos os presentes a darem as mãos para “pedirmos a paz mundial e vamos pedir que nos devolvam os nossos direitos consuetudinários que nos roubaram aos povos de Portugal, aos povos de Angola e aos povos da África em geral”, entoando um hino de meditação pela paz.(...)
Rosa Mayunga (Kiesse/Olo) nome artístico, escritora angolana, imigrante há 33 anos em Portugal, é a autora do livro Salalé três três os Reis do Kongo-Angola.
É doutoranda em Ciências Biomédicas-Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar (ICBAS) - Universidade do Porto (UP). É mestre em Desenvolvimento e Saúde Global - Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL).
É especialista em Medicina Tradicional Chinesa Modelo de Heidelberg-Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar (ICBAS) - Universidade do Porto (UP).
É, também, licenciada em Análises Clínicas e Saúde Pública - Escola Superior de Tecnologia de Coimbra (ESTES) - Instituto Politécnico de Coimbra.
Apresentação do livro Reis do Kongo
(«Favos de mel, salalé Três Três, Os reis do Kongo – Angola» de Kiesse/Ôlo)
(Biblioteca José Saramago – Loures) - por Eugénio Costa Almeida
Quero em primeiro lugar agradecer o acolhimento que o Município de Loures e a sua Biblioteca José Saramago, na pessoa da Dra. Maria de Lurdes Silva, nos proporciona para este lançamento, cumprimentar a mesa, e todos os presentes.
Nada é mais difícil que, em cerca de 3 semanas, ter de apresentar – de voltar a apresentar – um livro cujo lançamento já ocorreu a 14 de abril, em Lisboa, nas instalações da UCCLA com o sucesso que se lhe reconhece.
E é isso que vou tentar fazer ao apresentar o “Favos de mel, salalé Três Três, Os reis do Kongo – Angola” de Kiesse/Ôlo (pseudónimo literário da querida Mestre Rosa Mayunga) que fez questão que voltasse a ser o apresentador e com isso não sabe no buraco que nos criou a ambos. Mas vamos tentar sair dele com a delicadeza que esta obra exige e merece.
Como referi na primeira apresentação e acolhendo-me nas palavras preambulares do professor João Xavier Jorge, no que denominou de Exórdio – porque mais que um preâmbulo ou um prefácio, este exórdio é um princípio de uma vida histórico-literária de Kiesse/Ôlo – a autora (e a sua alma-mater aqui presente Rosa Mayunga) é “uma cidadã do Mundo, filha de África, Angolana de umbigo, cujo húmus ainda nutre as florestas de tacula e ébano das terras de Nzeto” (pp.9). Ao longo desta obra, a autora flui “o amor do silêncio que jorra a fluxo de um doce favo de mel (pp. 10) ”,como a caracteriza Xavier Jorge, Kiesse canta-nos a génese Bakongo, e oferece-se ao Rei do Kongo, para que a cada olhar, a cada arma, que a visam (e nos visam a todos), se convertam num “maxixeiro, ou num molho de caxinde para que o seu chá se beba em gestos de pacificação”.
O livro, ou mais corretamente, ao longo desta sua obra Kiesse apresentanos, através do reino do Kongo, vários agentes que condicionaram (e condicionam) a sua/nossa Angola: as fundações matrilineares da origem política e social do Reino, em particular, mas da África no geral; as mesmas fundações que levaram e levam o continente a desprezar todas as formas de tirania; fala-nos da civilização africana e das suas origens (e aqui abro um parêntesis para dois factos que Kiesse sublinha e que não posso, de novo, deixar de referir: o facto dos nossos ancestrais terem vindo de muito longe, para lá do Egipto como sublinham duas expressões na página 32 «Ambuta zetu, batuka kuna Ngipito» ou «O Yeto tu ana a Izael, tua tuka kuna Ngipito» (“Os nossos mais velhos (os antepassados) que saíram do Egipto!” e “Nós somos os Filhos de Israel que saímos do Egipto!”): Sobre isto recordo – e se me permitem um aparte – durante as investigações que efectuei para a minha Dissertação para o Mestrado e mais tarde para a Tese de Doutoramento cheguei à conclusão que viemos, ainda de muito mais longe, talvez do Sudeste Asiático, dado que algumas palavras que se fala nesta região, em particular no Vietnam, têm raízes e fonéticas muitos semelhantes a palavras Mbundo e Kikongo, nomeadamente o prefixo Ba que caracteriza os bantos e como sabemos é uma palavra originária de Ba Nto – os povos); Voltando a esta obra de Kiesse, e sobre aos agentes que aqui tentam definir o reino do Kongo e África – sublinhe-se que estes factores se referem só à primeira parte da obra e aqui antecipo o que talvez já deveria ter feito logo no início: o livro está dividido em três grandes capítulos: O reino do Kongo, A evolução das moedas de Angola e Poesia – vamos aqui encontrar 4 ou 5 parágrafos sobre a Civilização e Identidades da Civilização Africana, no todo e dos povos angolanos no particular; e alguns parágrafos sobre a ética e a moral africana.
Ou seja, no geral, Kiesse, a autora, e Mauynga, a pessoa, oferecem-nos uma visão política, social e uma certa forma de democracia africana e a sua evolução ao longo dos séculos no continente africano, em geral, e em Angola, com particular destaque para a visão governativa dos reinos que foram génese da nossa Pátria e para a sua pré-democraticidade, nomeadamente, para o respeito que os nossos ancestrais reis nutriam pelos seus súbditos; tudo condições históricas que merecem ser lidas e estudadas.
A segunda parte do livro aborda As Moedas de Angola desde as suas mais remotas origens até à actualidade.
A primeira moeda que Kiesse nos oferece é o Zimbo (ou njimbu/lumoxi) que mais não eram que conchas de caracóis como poderão reparar na página 57 e que eram, essencialmente, apanhadas na Ilha do Cabo (a Ilha de Luanda); de seguida evolui para o panos – os do Kongo e os de Mabela –; fala-nos do Sal e do Metal como moedas de troca e de pagamento; as contas ou missangas; o marfim – que se tornou no grande cancro dos elefantes, porque desde essa altura não mais deixou de ser usado para outros fins que não os iniciais com graves consequências para a população de elefantes que ainda hoje vemos serem abatidos só, exclusivamente, para tirarem os dentes de marfim; a escravatura ainda que este tema pudesse ter sido incluído no primeiro capítulo, mas aqui Kiesse tentou mostrar que este tema não só serviu para formar ou deformar algumas mentalidades de alguns reis do Kongo usando a escravatura não só como meio de pressão sobre inimigos assim para, também, servirem como moeda de troca; e, finalmente as moedas metálicas: as moedas Reis. A Macuta, o Angolar; e o Escudo angolano. Algumas faltam – e a autora já teve a humildade de várias vezes o reconhecer – como também faltam – e penso que numa próxima edição isso será possível – as células (as correntes notas) que existiram na época colonial e as células e as moedas da pós-independência (estas voltaram a circular).
Finalmente o livro termina com um conjunto de poemas que Kiesse aqui quis deixar postos para mostrar a sua personalidade e personalidade da mulher africana como fica demonstrado no poema «Crude Humano» (página 221) de que tentarei recitar, a parte inicial:
Negra mulher de áfrica
berço da humanidade
Oh mãe divina da cor
do crude ouro negro de áfrica
mãe forte, firme, de carisma,
emancipada
desde a fundação do abençoado continente
paraíso da humanidade
negra guerreira
mulher com história e da história
mulher que gerou híbridos
e acolheu no seu quintal
a mulata desprezada pela vergonha do desamor
e a fez sentir mulher amada…
(o poema é um pouco mais longo, pelo que vos aconselho aler, como todos os outros, destacando, se me permitem, «Sofrimento e mágoa» (pp. 216), «Acima do Dinheiro» (pp. 244) e «Aves marinhas que morrem de fome» (pp. 246), pelas diferentes analogias sociais, no mínimo, que os mesmos contêm.
Poderia, e talvez devesse, continuar a explanar todo o sentir da autora nesta sua obra que é a um tempo e como já vos tentei fazer ver, um misto de prosa e poesia, ou, mais concretamente uma escorreita prosa poética complementada com uma secção de poesia de amor e intervenção.
Só que ao fazê-lo, tiraria todo o prazer aos leitores de se deliciarem na fluidez poética da Kiesse/Ôlo e que irão acolher ao ler nesta obra que hoje está aqui a ser-vos apresentada.
Obrigado
Loures, 5 de Maio de 2016
