CAMÕES E OS PORTUGUEZES NO BRASIL: reparos críticos - Figueiredo Magalhães


Magalhães, Figueiredo 
- CAMÕES E OS PORTUGUEZES NO BRASIL: 
reparos críticos
Rio de Janeiro: Typographia da Gazeta de Notícias, 1880.
Vol. 1 ( e único publicado): 154, (1) p. ; 23 cm.
Encadernado sem as capas de brochura; páginas de guarda com acidez; no topo da página 5 tem uma frase exclamatória manuscrita da época; miolo limpo.
Bom exemplar.
Pouco frequente.
1ª edição
€22.00
Iva e portes incluídos.




Nabuco, Camões e Figueiredo Magalhães
Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo (1848-1910), diplomata, historiador, jurista, jornalista, fundador da Academia Brasileira de Letras e destacado líder abolicionista.
Francisco Bento Alexandre de Figueiredo Magalhães (1838-95) era médico formado no Porto. Em 1817, transfere-se  para o Rio de Janeiro. Figueiredo Magalhães foi também jornalista, sustentando várias polémicas nos jornais cariocas, logo se revelando como a grande figura da cultura portuguesa no meio da colónia lusitana do Rio. Autor do livro Camões e os Portugueses do Brasil (Reparos Críticos), de grande repercussão no seu lançamento, em 1880.
Festejava-se neste mesmo ano, o III centenário de Luís de Camões. Dr. Figueiredo Magalhães achava-se com o direito de ser o orador oficial da solenidade, porém Teófilo Braga, presidente do Gabinete Português de Leitura, convidou Joaquim Nabuco, que anos antes havia escrito um livro sobre o Poeta Maior.
Figueiredo Magalhães não gostou da escolha e "rodou a baiana". Em represália escreveu o livro supracitado.
"Exórdio. Proémio. Prefácio. Introdução. Prólogo. Preâmbulo. Prelúdio. Prefação", começava assim, para mostrar erudição, Camões e os Portugueses do Brasil.
"Desconsideração cuspida na colónia portuguesa", afirmou magoado o dr. Magalhães. E disse mais: «Li que a directoria do GPL convidara o Sr. Joaquim Nabuco para orador das festas com que tenciona celebrar o centenário de Camões, e admirei a força do piparote dado assim no inepto nariz de toda a colónia portuguesa..." "Eu protesto, em nome do meu patriotismo, e os assassinos dos créditos pátrios respondem que não haja um português decente para ir cumprimentar Camões no seu centenário."
Figueiredo Magalhães achava que Nabuco "não sabia falar português correctamente, mas um patuá: o dialecto nabuqueano..." "A carnavalesca enfarruscada que o sr. Nabuco deu na cara de Camões." E continuou com a sua diatribe: "O sr. Nabuco, arvorado em simples general de guerrilhas, falou dos amigos portugueses como Napoleão não pôde falar do inimigo Portugal, e disse de Camões o que Mafoma não disse do toucinho."
"O sr. Nabuco fez no seu discurso alterações fónicas, morfológicas e sintácticas, que abalaram profundamente as células glóticas do organismo gramatical da língua portuguesa, e que desfiguraram o característico da sua fisionomia real..." "São esbeltas e robustas as formas do dialecto nabuqueano..." "para fugir dos aleijões tupi, parece descambar para a corcunda guarani".
Não parou por aí: "O sr. Nabuco fabricou uma espécie de bolacha de água e sal para o fornecimento de ceia festival, onde Camões chuchou o beijo iscariótico dado pelo apóstolo que o vendeu a dez tostões".
E com chave de ouro, concluiu: "A colónia portuguesa tem muitos indivíduos acima da altura marcada pelo sr. Nabuco na craveira literária do assunto; o Brasil tem dúzias de homens de letras muitíssimo mais elevados e maduros pelo sol da literatura clássica do que o verde e aliás talentoso orador escolhido." & etc. - in DN 23 de Janeiro de 2010.