- UM ANJO VISIVEL:
homenagem a D. Constança Telles da Gama (Cascaes),
Lisboa: Typographia Portugueza, 1913.
19 p. ; 21 cm - Brochado.
Muito esparsos pontos de acidez; dobra na vertical; miolo limpo.
Bom exemplar.
Invulgar.
1ª edição
€20.00
Iva e portes incluídos.
D. Constança Maria Teles da Gama (Ponta Delgada, 1877 - Lisboa, 1960)
D. Constança Telles da Gama, filha dos Marqueses de Niza, Condes de Cascais, «descendente legítima e directa de Vasco da Gama.» Foi protectora dos reclusos políticos. Visitava-os nas cadeias, amparava as famílias. «Pois essa nobilíssima senhora, condoída da desgraça situação material e moral em que se encontravam os encarcerados, muitos deles inocentes de toda a culpa, vítimas apenas de vinganças mesquinhas ou do instinto sanguinário das multidões enfurecidas, correu a socorrê-los, motivo porque mereceu ser cognominada por Malheiro Dias «o anjo das cadeias». Gaspar de Abreu, Memórias Políticas, Braga, 1960, Volume I, pp. 247-247
(...) Resta acrescentar o papel das senhoras, particularmente activas no apoio à legião de presos que ocupava as cadeias portuguesas. A figura mais proeminente na acção filantrópica foi D. Constança Teles da Gama, promovendo subscrições financeiras para distribuir pelos presos mais necessitados e encarregando-se de muitas diligências jurídicas a que estavam obrigados os prisioneiros políticos.
Mas o «anjo visível» ou «anjo das cadeias» teria outras facetas mais ocultas, envolvendo-se em actividades conspirativas para o financiamento de uma revolta em Lisboa, em 1913, juntamente com a condessa de Ficalho. A conduta subversiva, que sempre negou, valeu-lhe o cárcere durante oito meses, ao lado de muitos dos prisioneiros políticos que auxiliara, sendo absolvida de todas as acusações. (...) - Miguel António Dias Santos, Antiliberalismo e contra-revolução na I República (1910-1919), Coimbra, 2009, pp. 62-63
nota nº 739 AHM, 2.º TMTL, caixa 166, processos 206 e 2657. D. Constança Teles da Gama foi presa
na sequência da incursão realista de 1912 e julgada em 1 de Abril de 1913, sendo absolvida.
No tribunal explicou a sua ligação com monárquicos com a actividade de caridade que exercia nas prisões, em auxílio dos presos políticos mais necessitados. Mas a documentação existente em arquivo prova claramente a sua ligação com elementos conspirativos, tanto em 1912 como em 1913. Em 6 de Junho de 1912, José dos Santos Alves, que seria julgado juntamente com D. Constança, acabando condenado, escrevia esta carta à sua protectora: «V. Ex.ª pergunta-me se me tenho visto aflito? Não lhe posso explicar os carbonário [sic] e outros patifes trazem-me tão vigiado que não posso ir a casa dos meus amigos e iguais influentes do assunto do que temos a tratar, a minha casa é vigiada e ninguém me pode visitar porque ficam a duvidar de quem me visita, enfim estou bem por certo que à mais pequena coisa que torno a ser preso, por isso espero as ordens de V. Ex.ª se for preciso passar a fronteira ou fazer outro qualquer trabalho é só dar-me as ordens de V. Ex.ª. Eu também me convinha visto andarem com tanta vigilância sobre mim, eu já fui soldado e portanto tenho imensa vontade de pegar numa espingarda para derrubar esta canalha, estes ladrões que nos roubaram o sossego e o bem da nossa pátria, roubaram-nos a nossa querida família real portuguesa, que tanto bem fazia aos pobres, roubaram-nos e querem destruir por completo as nossas crenças religiosas mas estou bem por certo que não hão-de ter esse prazer nem levá-lo a cabo, porque eu estou pronto a derrubar a última gota de sangue pela santa monarquia e da minha opinião há milhares de pessoas. Portanto espero as suas ordens. [...] José dos Santos Alves, Entroncamento, Chaves» [AHM, 2º TMTL, n.º ordem 34, arquivo 9, pasta 3]. Já em 1913, Godofredo Melo, ex-polícia e chefe de um dos grupos realistas a quem foi encontrado grande quantidade de armamento, confessaria que o armamento «era para uma revolução monárquica e que tinham muito dinheiro dado pela senhora condessa de Ficalho e D. Constança Teles da Gama». Este depoimento seria corroborado por um cabo da polícia de Almada, aliciado para a restauração [AHM, 2.º TMTL, caixa 166, processo 2657]. - Miguel António Dias Santos, Antiliberalismo e contra-revolução na I República (1910-1919), Coimbra, 2009, pp. 180