MEMÓRIAS PAROQUIAIS: 1758 - João Cosme, José Varandas

Cosme, João (ed.); 
Varandas, José (ed.) 
- MEMÓRIAS PAROQUIAIS: 1758
Lisboa; Casal de Cambra: Centro de História da Universidade de Lisboa; Caleidoscópio, 2009-2011.
3 v. ; 24 cm - Brochados
Introdução, transcrição e índices de João Cosme e José Varandas; trata-se dos três primeiros volumes da obra; segundo volume com ligeiros pontos de acidez no corte das páginas; sem quebras nas lombadas; miolos limpos.
Memórias Paroquiais (1758), vol. 1 [Abação-Alcaria] 
- 517, [1] p. - 2009.

Memórias Paroquiais (1758-1759), vol. 2 [Alcaria-Alijó] 
- X + 485 p. - 2010.

Memórias Paroquiais (1758), vol. 3 [Almonde Amorim] 
- XI + 579 p. - 2011.

Muito bons exemplares.
1ª edição
€40.00
Iva e portes incluídos.



Descrição do Projecto
1. Em 1 de Novembro de 2005 completaram-se, precisamente, duzentos e cinquenta anos sobre o terrível abalo telúrico que assolou e destruiu a capital portuguesa. Esta manifestação da natureza fez correr «rios de tinta» por toda a Europa, despertando o interesse dos principais pensadores da época. Basta lembrar os escritos que Voltaire e Kant lhe dedicaram.
A destruição de parte significativa de Lisboa teve várias consequências. Uma das principais foi a grande perda das respostas ao inquérito manuscrito que o padre Luís Cardoso havia recebido e ordenado alfabeticamente por freguesias. Não só este motivo, mas também porque o cataclismo deixara marcas no País, era necessário proceder a um novo e mais completo inquérito para conhecer, pormenorizadamente, a novel realidade.
​Deste modo, pode afirmar-se que as Memórias Paroquiais de 1758 são uma consequência do terramoto de 1755.
Documento pragmático por excelência, pois contém informações directas e precisas sobre o «Estado do Reino» volvidos três anos sobre a destruição provocada pelo violento sismo. O conjunto das «Memórias» reflecte aspectos importantes da sociedade portuguesa, em especial as relações entre o sistema administrativo central e as múltiplas periferias, transformadas em vilas, freguesias e lugares, que compõem o reino. Traduz de uma forma precisa o peso que esse «Centro» tem no reino; denominador comum das instituições locais, embora, como sabemos, não se possa falar, pelo menos ao longo deste século XVIII, da existência de um «governo», pelo menos no sentido moderno que lhe atribuímos.
Do que hoje sabemos o poder municipal era discreto. Em todos os aspectos a sua influência era bastante diminuta. Rendimentos parcos levavam a quase nenhuma influência perante a Coroa, que amiúdes vezes desviava dinheiro dos impostos centrais para necessidades evidentes das pequenas localidades. Muita da sua pouca expressão passa, também, pela inexistência de documentos ao nível local. Ausência essa, muitas vezes atribuída ao impacto físico do terremoto. Por volta de 1758 os rendimentos locais eram muito parcos, as receitas das pequenas câmaras eram quase inexistentes e quando as dificuldades financeiras se declaravam, a pressão tributária incidia com mais força sobre as populações, em especial as freguesias rurais. Numa altura em que os povos, através dos seus representantes, solicitavam auxílio ao poder central através de petições, o conteúdo expresso nas «Memórias» possibilita aos funcionários do Poder central uma avaliação mais concreta do verdadeiro «estado da nação».
Aspectos determinantes relacionados com este tão importante questionário são os que se prendem, em primeiro lugar, com os destinatários, ou seja os párocos das freguesias do reino. São homens que sabem ler e escrever, uma preciosidade naqueles tempos, e cujo distanciamento das esferas políticas lhes permite manter uma objectividade directa e concreta nas respostas apresentadas, embora com uma ou outra excepção. Em segundo lugar, o sistema central evita as respostas dos representantes locais e o conseguinte «terreno pantanoso» dos interesses específicos de cada uma das freguesias, quer a nível colectivo, oligárquico, ou até o dos funcionários centrais ali destacados, deixando a uma instituição mais «isenta», embora muitas vezes em conflito aberto com o poder maior, a resposta à informação solicitada.
2. Após a assinatura do tratado de paz, firmado com França em 11 de Abril de 1713, e em 6 de Fevereiro de 1715, com Espanha, o monarca passou a dispor de condições para concentrar a sua acção governativa ao nível interno. As mutações ocorridas ao nível político-administrativo, bem como ao nível financeiro, no final do século XVII, facilitaram a consolidação do absolutismo em Portugal.
D. João V, como qualquer soberano absoluto, deveria conhecer em profundidade o espaço sob a sua jurisdição. Por isso, incumbiu a Academia Real da História Portuguesa, criada pelo decreto de 8 de Dezembro de 1720, de escrever «a História Eclesiástica com o título de Lusitania Sacra, e depois tudo o mais que pertencesse à secular». No ano seguinte, a Academia dirigiu o seu pedido de informações aos arcebispos, bispos e demais autoridades religiosas e civis. Cremos que a maior parte não respondeu; porém, no que concerne às autoridades religiosas, conhecem-se as respostas dos cabidos de Coimbra, de Leiria e de Elvas.
Novo inquérito foi enviado em 1732 às autoridades religiosas. A Secretaria de Estado tentava conhecer o Reino, procedendo a novo inquérito. Pretendia-se elaborar um dicionário, onde facilmente se encontrassem os elementos caracterizadores de cada freguesia. Tal como refere José Viriato Capela, «os inquéritos de 1732 se têm muitas afinidades com as tarefas que a Monarquia impôs à Academia, a partir da sua configuração paroquial ganham um objectivo moderno e prospecção dos recursos e potencialidades das terras, da sua geografia física e económica, sua população e distribuição social com vista a objectivos mais concretos e imediatos da governação política e territorial». Isto é, estão «ineludivemente ligados com os progressos gerais do Estado e da Administração pública da 1ª metade de setecentos que em Portugal que em Portugal se exprime, nas coordenadas da governação de D. João V, pelo esforço de instalar um Estado e um Governo Absoluto que pretende realizar os meios e as condições para um maior conhecimento e logo para um superior domínio, controlo e governo do território».
Todavia, o terramoto de 1755 não só fez desaparecer a maior parte das informações (respostas ao inquérito anterior), como também transformou a realidade do País. Era necessário conhecer a nova realidade. Para o efeito, D. José I, como soberano iluminado, através do seu ministro Sebastião José de Carvalho e Melo, via Secretaria de Estado dos Negócios Interiores do Reino, em Janeiro de 1756, remeteu outro inquérito às autoridades eclesiásticas com o intuito não só de averiguar os estragos causados pelo cataclismo do 10 de Novembro do ano anterior, mas também porque desejava ter uma verdadeira «radiografia» do reino.
3. Existem muitas publicações das Memórias Paroquiais de 1758, sobre um amplo número de freguesias, que com este tipo de edição vão comemorando factos essenciais da sua história. Porém, são edições dispersas e de cariz local. Não existe um trabalho sistemático de publicação ordenada das Memórias, além do que tinha sido feito pelo padre Luís Cardoso, que as organizou alfabeticamente e indexou sumariamente. Com uma breve nota introdutória serviu, esta compilação, como guia de consulta a várias gerações de investigadores. Merecem particularmente referência os trabalhos de José Viriato Capela, pois são excepção a este postulado, já que publicou as Memórias da Província de Entre-Douro-e-Minho. Também o Archeologo Português transcreveu brevíssimos «extractos» dos primeiros oito volumes. Tal como se refere, Pedro de Azevedo limitou-se a pequenas citações das partes que se reportavam aos elementos arqueológicos conhecidos dos priores das freguesias.
E, contudo, as Memórias são, para o século XVIII, o maior levantamento histórico-geográfico alguma vez feito no nosso país. Nelas se resume o «estado da nação» três anos volvidos sobre a destruição provocada pelo terramoto. Vitorino Magalhães Godinho defendia, inclusivamente, como tarefa programática a publicação integral destas Memórias, «porquanto se trata da mais importante fonte de conjunto do país da história portuguesa».
4. No questionário enviado em 1756, encontra-se um amplo e multifacetado leque de perguntas, sobre temas muito díspares, como por exemplo meio natural, quadro político-administrativo, população, vida económica e instituições religiosas. Este questionário é constituído por três subgrupos de questões. O primeiro contém 27 questões de ordem genérica; o segundo é composto por 13 perguntas sobre as serras, e o terceiro inclui 20 sobre os rios.
Desde logo é perceptível que este questionário é diferente dos anteriores. Não só contém mais itens, mas também é mais abrangente no plano temático. Por exemplo, na 1.ª parte, pergunta explicitamente (questão 26.ª): «Se padeceu alguma ruína no Terramoto de 1755, e em que, e se está reparada?». Nele são escalpelizadas áreas espaciais até então omissas. O espaço já é entendido como um elemento de poder, enquanto nos inquéritos anteriores se sobrevalorizam elementos de natureza e conexão religiosa.



Até à data foram publicados os seguintes volumes:
1º v.: Abação-Alcaria. - 2009 - XVIII, 517 p. . 
2º v.: Alcaria-Alijó. - 2010. - X, 485 p. . 
3º v.: Almonde-Amorim. - 2011. - XI, 579 p. . 
4º v.: Ança-Arnóia. - 2012. - 415 p. . 
5º v.: Arões-Azurem. - 2014. - XXXIII, 412, [1] p. . 
6º v.: Babe-Benquerença - 2015. - IX, 450, [1] p. . 
7º v.: Benavente-Bustelo - 2016 - XLI, 469 p.