APPÊLLO DO EPISCOPADO AOS CATHOLICOS PORTUGUEZES - União Catholica


União Católica 
- APPÊLLO DO EPISCOPADO AOS 
CATHOLICOS PORTUGUEZES
Guarda: Veritas,[1913].
20 p. ; 19 cm - Brochado.
Capas com ligeiros picos de acidez e pequena etiqueta na frontal; parte inferior das págs. 14 e 15 ligeiramente mais escuras, longe da mancha tpográfica; miolo limpo.
Texto conjunto de:
António, Patriarca de Lisboa
Augusto, Arcebispo de Évora
Manuel, Arcebispo - Bispo da Guarda
Manuel, Bispo Conde
António, Bispo do Porto
Francisco José, Bispo de Lamego
Antonio, Bispo de Portalegre
António, Bispo do Algarve
António, Bispo de Viseu
Bom exemplar.
Raro
1ª edição
€12.00
Iva e portes incluídos.


(...)
Decidiram dirigir um Apelo do Episcopado aos católicos portugueses, que, já no título era relativamente original. Na verdade, até 1910, a hierarquia eclesiástica podia dirigir-se à Coroa, também esta oficialmente “católica”. Agora, os destinatários passavam a ser outros, isto é, os próprios crentes: «Não é ao Magistrado supremo da nação – Manuel Arriaga, a quem já se tinham dirigido também - que nos dirigimos agora: a nossa palavra vai procurar acolhimento e eco nos corações de todos os que connosco comungam na mesma santa fé, nas almas de todos os católicos, que constituem a grande maioria da nação portuguesa».
Retenha-se a “modernidade” do trecho. Os bispos não se dirigem à autoridade política, mas sim aos católicos, destacando a unidade de crença e a qualidade católica, que se manifestavam operativas para a mudança do estado de coisas. E consideram-nos, não a totalidade, mas ainda assim – ou já assim?! – a grande maioria da nação.
E a retórica concretizava-se logo de seguida, contrariando pela positiva as descrições negativas de meia dúzia de anos antes: «Os templos regurgitam de fiéis; e os fiéis assistem com reverência e devoção maior aos atos religiosos; aumenta a frequência dos Sacramentos em algumas regiões, e até na capital; - e estas demonstrações de crença e piedade tanto mais valem e maior admiração excitam quando refletimos nas dificuldades, nos apodos e motejos, até agressões corporais, com que têm de arrostar os que as praticam».
“Moderna” é a iniciativa episcopal de se dirigir diretamente aos fiéis num tema tão ou mais político do que doutrinal; moderna é a revivescência religiosa sem enquadramento público; moderno é o contraste assumido e até sofrido com a hostilidade ambiental; moderna é, em suma, a assunção pessoal e desafrontada duma crença ancestral que se revelava mais sólida do que parecera a crentes e não crentes. Moderna até, por opor uma a outra modernidade, neste caso mutuamente “anti-modernas”…
Fosse como fosse, urgente era conseguir para a Igreja a liberdade que o regime havia de garantir a todos, pois se queria também moderno e democrático. E os bispos descansavam os governantes e quem quer que fosse: «é a desordem social que queremos combater, mantendo-nos inflexivelmente no campo da ordem, da justiça e da legalidade». 
Era precisamente dentro do campo da legalidade que conclamavam a unidade dos crentes para a defesa de direitos que não ultrapassavam nem dispensavam a comum cidadania: «Sem ultrapassarmos as lindes deste campo, é-nos lícito, porém, usando do nosso direito de cidadãos livres, proclamar a necessidade da organização de nossas forças, para o bem da Religião e da Pátria».
Modernidade de novo: para alcançar a liberdade da Igreja, urgia unir os cidadãos crentes em unanimidade de propósito e ação, como outros igualmente o faziam por outros motivos e com igual faculdade, no mesmo regime que a prometia a todos. Só neste âmbito insistiam: «Cerrar fileiras, organizar a ação católica é (repetimos) a suprema necessidade atual».
Tudo o que o catolicismo militante fizer daí em diante, ao menos o mais hierarquicamente confirmado, inserir-se-á neste quadro, até 1917 (sidonismo), até 1926 (“28 de maio”), ou até 1940 (Concordata) e ainda depois. Organizando-se autonomamente em relação aos sucessivos regimes, é dentro deles que procurará a liberdade para fazer o que lhe é específico, quer internamente, como culto, quer em relação à sociedade, como inspiração. Porque a pretendida união católica – ou dos católicos – havia de ter repercussões sociais, mas pacíficas e renovadoras. Como concluíam o Apelo de 1913: «Por Deus, pela pátria e pela liberdade das nossas consciências corramos todos a alistar-nos na União Católica, que será a pacífica falange dos defensores do ideal em que reside o segredo da renovação religiosa e social do nosso país».
(...)  - D. Manuel Clemente, in "Colóquio Internacional: Catolicismo, modernidade e anti-modernidade / Igreja, Estado e Sociedade (Portugal 1910-1940), 

JUVMIG