Oliveira, José Osório de
- ENQUANTO É POSSÍVEL:
ensaios e outros escritos,
Colecção Ensaístas Portugueses e Brasileiros nº 1,
Lisboa: Universo, 1942.
190, [1] p. ; 20 cm - Brochado.
Valorizado pela dedicatória do autor; capa posterior com alguns picos de acidez; miolo limpo.
Bom exemplar.
1ª edição
€15.00
Iva e portes incluídos.
(...)
A década de 40 haveria de ser para este homem de letras um período de re-orientação e de viragem. O desânimo face à intervenção cultural no espaço luso-brasileiro, a que já nos referimos, terá sido um dos motivos impulsionadores. Por outro lado, o conflito mundial, notícias e leituras daí decorrentes, bem como o facto histórico da passagem por Lisboa de multidões de refugiados, parece terem-lhe acentuado ainda mais a consciência de europeu. Neste sentido, a colectânea de 1942, a que deu o título de ressaibas elegíacos «Enquanto é possível. .. », pode ser interpretada como um recapitular do legado cultural da velha Europa e uma homenagem a esse mundo agora ameaçado: Portugal, França, Inglaterra, Espanha são as quatro peças centrais com que constrói um espaço de ideias e valores que são os seus. Neste livro publicado em plena guerra mundial, a Alemanha é essencialmente o outro lado, o perigo para a civilização ocidental, que Osório de Oliveira vê baseada na liberdade individual e no justo equilíbrio É certo que são comentados Keyserling e Sieburg, encontram-se referências mais ou menos fugazes a Nietzsche, Heine, Rilke (Oliveira, 1942: resp. 20, 21, 70, 70, 137), mas, nessa colectânea, a pátria de Goethe surge convocada sobretudo pelo silêncio. A ausência de recepção é, afinal, uma forma de recepção e, aqui, é-o de forma especialmente significativa.
(...) Vimos como Osório de Oliveira muito se preocupou com a ideia dos povos enquanto nação. Sob esta perspectiva, a Alemanha foi por ele experimentada como algo de longínquo. Quer em virtude de ambições territoriais em relação às nossas ex-colónias, quer em função das suas posições políticas e
ideológicas nos anos 30 e, depois, no período da guerra, a Alemanha é objecto de expressa condenação e de repúdio, o que se sente especialmente na colectânea Enquanto é possível... Mas também aqui o mecanismo da curiosidade por e da aproximação ao que é estranho se torna activo. A consciência de Europa, desde sempre presente em J. Osório de Oliveira mas particularmente viva a partir dos inícios de 40 - também em face de alguma desilusão com a promoção do diálogo luso-brasileiro a que tão apaixonadamente se entregara - levou-o a procurar cada vez com mais empenho o lugar da Alemanha nessa construção, o que não só o levou a intensificar as suas leituras alemãs como o estimulou ao contacto com alemães e à viagem pelo espaço alemão depois da guerra, do que se encontram múltiplos testemunhos nas crónicas dos últimos anos. in: LEITURAS ALE:MÃS DE UM «LUSO-BRASILEIRO». JOSÉ OSÓRIO DE OLIVEIRA E A CULTURA DE EXPRESSÃO ALEMÃ - DE GOETHE A KAFKA, de Maria António Hörster