A DESCOBERTA DE UMA CONSPIRAÇÃO: a acção Spínola - Günter Wallraff, Hella Schlumberger


Wallraff, Günter; 
Schlumberger, Hella (co-autor); 
Peixoto, R. M. (trad.) 
A DESCOBERTA DE UMA CONSPIRAÇÃO: 
a acção Spínola
Colecção Documentos de Todos os Tempos, 
Amadora: Bertrand, 1976.
244 p. ; 22 cm - Brochado.
Muito bom exemplar.
1ª edição
€13.00
Iva e portes íncluidos.

Da autoria dos jornalistas investigadores Günter Wallraff e Hella Schlumberg, o livro foi editado em 1976, em Portugal pela Bertrand, e na Alemanha (Colónia) pela editora Kiepenheuer & Witsch. Relata a preparação, no início daquele ano, de um assalto ao poder protagonizado por António Spínola, ex-general, ex-presidente da República, e líder do Movimento Democrático de Libertação de Portugal (MDLP), envolvendo também alguns elementos militares no ativo.
Embora o golpe fosse do conhecimento público desde Abril, quando Wallraff o denunciou na imprensa nacional e estrangeira, o lançamento do livro, na Casa da imprensa, a 14 de Dezembro, ficou marcado por algumas surpresas! O editor da Bertrand, Eduardo Martins Soares, foi preso pela polícia, que alegadamente o confundiu com Günter Wallraff; e este, temendo pela sua segurança e liberdade, não apareceu como estava previsto, para apresentar os documentos e as gravações que recolhidos durante a investigação.
A investigação de Günter Wallraff - jornalista alemão reconhecido e temido pelo seu empenhamento na denúncia de casos de abuso de poder e de repressão e exploração dos mais fracos, era conhecido pelos seus métodos de investigação inusuais, próximos da espionagem, mergulhando nas realidades que investigava, assumindo diferentes “papéis”, expondo-se às condições, vivências e sofrimentos do outro - foi tornada pública em Portugal, antes ainda de ser publicada na famosa revista alemã Stern. Em Março, antes de regressar à Alemanha, Wallraff prontificou-se a explicar, em exclusivo, ao jornalista Carlos Benigno, do Diário Popular, o que motivara a sua investigação e onde esta o levara. Depoimento que fez a manchete da edição de 1 de Abril de 1976.
A ausência de reações imediatas na imprensa à notícia do Diário Popular é, de certa forma, surpreendente, atendendo a que estávamos em vésperas das eleições para os órgãos de soberania (Assembleia, Presidência da República e Autarquias). O facto de a data de publicação coincidir com a do “dia das mentiras” e de os boatos proliferarem naqueles tempos revolucionários poderá ter suscitado alguma cautela ou reserva. Mas depois da reportagem de Wallraff ter sido a publicada na Stern (a 6 de Abril), despertando não só o interesse da imprensa estrangeira, como causando alguma agitação e desconforto entre as autoridades suíças e alemãs, em cujos territórios Spínola e os seus apoiantes procuraram angariar apoios, foi impossível manter o silêncio.
Spínola acabou mesmo por ser expulso da Suíça, o que o levou até ao Brasil. E toda esta sequência de acontecimentos ganhou visibilidade na maioria dos jornais portugueses de grande informação: reproduziram a reportagem da Stern ou trechos dela, enviaram repórteres à Alemanha e abriram espaço ao comentário e à opinião, refletindo as leituras divergentes que emanavam dos meios político-partidário, institucional, militar e social
Com o aproximar das eleições para a Assembleia da República, agendadas para 25 de Abril, o “golpe” de Spínola foi perdendo visibilidade na imprensa. De seguida houve que preparar, para 27 de Junho, a eleição do Presidente da República. A institucionalização da democracia serenou os ânimos. Em Agosto, António Spínola permitiu-se regressar ao país e ninguém o incomodou.
Só em Dezembro, quando constou que Günter Wallraff se deslocaria a Portugal para o lançamento do seu livro, Spínola e as suas maquinações alimentaram novamente uma torrente de notícias e comentários contraditórios, mas depressa secou e o “caso” caiu no esquecimento. Quanto ao livro, que conheceu 2.ª edição ainda no ano do seu lançamento. - in Hemeroteca Digital.

MMSARD