Gogol, Nikolai;
Guerra, Nina (trad.);
Guerra, Filipe (trad.)
- O NARIZ,
Colecção Gato Maltês nº 39,
Lisboa: Assírio & Alvim, 2000.
76, [3] p. ; 19 cm - Brochado.
SINOPSE
Pai da moderna prosa russa, Nikolai Gógol escreveu um conto, uma sátira que tem por fundo a atmosfera oitocentista de São Petesburgo, e que pelo absurdo e pelo ridículo da situação (o assessor de colégio, major Kavaliov, acordou uma bela manhã sem o seu nariz e, para espanto seu, encontrou esse mesmo nariz, o seu, a passear-se pela cidade, fazendo-se passar por conselheiro de Estado) acabaria por ver recusada a sua publicação, por ser considerado "sórdido", na revista "O Observador de Moscovo", para a qual havia sido inicialmente escrito a pedido de Pogodin. Foi mais tarde publicado em "O Contemporâneo", com uma nota de Pushkin, o pai da moderna poesia russa. Chega agora à edição portuguesa traduzido directamente do russo por Nina e Filipe Guerra, com uma introdução de Vladímir Nabokov, e é obrigatório lê-lo porque se trata de um dos textos mais marcantes da prosa contemporânea.
EXCERTOS
«O Nariz, um conto do absurdo, claro, mas de um absurdo de dois bicos: age sobre o trivial, mas também o trivial age sobre ele, tornando-o estranhamente verosímil. Portanto, nada de fantasias! Podemos fartar-nos de estabelecer paralelos com os antecedentes românticos em que se perdia magicamente qualquer coisa: ora o coração, ora a sombra, ou então era o nariz que crescia—mas sentimos sempre uma diferença nítida: em Gógol não encontramos o ambiente de enigma: a suposição dos efeitos de magia como causa do acontecimento é rejeitada de imediato (a carta da “vítima” com as acusações balbuciantes de bruxaria, em que nem ele próprio acredita, e a carta de resposta da acusada que nem sequer percebeu as insinuações e que por isso lhes dá uma interpretação muito prosaica e, como tal, cómica). Nada de magias! Esta, aliás, é uma das particularidades da escrita russa, a partir de Púchkin: por mais misticismos, crenças, superstições, por mais almas que andem no ar, o escritor tem sempre os pés assentes na terra e alimenta dela a sua inspiração. Iúri Mann (O Sistema Poético de Gógol, Moscovo, 1978) escreve que as ligações genéticas dos contos de Gógol com a literatura do romantismo (Hofmann, Chamisso) já estão suficientemente estudadas pela crítica. O que faltava era descobrir a mudança fundamental que esta tradição sofreu em Gógol. O motivo da perda pelo herói de uma parte do seu Eu, seja corporal, seja espiritual, estava ligado, na tradição romântica, com a acção de forças sobrenaturais. Em O Nariz não existe portador nem personificação da força não-real. Não se descortina culpado e, pelos vistos, não existe. Existe apenas facto. E também a atitude das personagens para com o facto. Não há culpado, não há explicação do fenómeno. O leitor espera involuntariamente qualquer esclarecimento — mas o narrador afasta-se, põe a máscara do “censor” e prega ao leitor uma partida (“não percebo absolutamente nada”, diz) e, ainda por cima, declara que “acontecem coisas destas no mundo—raramente, mas acontecem”; depois sai de cena, deixando o leitor de mãos a abanar…»
Dos tradutores Nina Guerra e Filipe Guerra
Exemplar novo.
€6.20
Iva e portes incluídos.
MMSARD