77, [3] p. ; 21 cm - Brochado.
SINOPSE
«Repercussão» é o novo livro do poeta Gastão Cruz, a cuja obra anterior, «Rua de Portugal», foi recentemente atribuído o Grande Prémio de Poesia APE/CTT. Gastão Cruz tem uma vasta obra literária publicada e vários prémios.
CRÍTICAS DE IMPRENSA
"[...] a verdadeira matriz da poesia de Gastão Cruz foi sempre a memória que nimba como uma aura o que é representado e imobiliza na imagem o curso do mundo. A imagem é o eco, o ritornelo da escrita, o que se liberta do fugaz e do transitório, fixando e desfigurando tudo aquilo em que toca. Assim entendida, a imagem não é uma forma, no sentido clássico, mas uma energia metamórfica, como as aves que aqui regressam sempre diferentes; ou como o som que se repercute mas não se extingue e, desta maneira, traz a memória do começo: repercussão da morte percutiva." - António Guerreiro, Expresso, Actual
"Repercussão divide-se, em partes quase iguais, entre a dita abertura a um biografismo vigiado e não confessional e uma poética in progress, mas sempre centrada na alusão e no labor do verso. Os únicos poemas que porventura não alcançam a mestria que encontramos noutros livros são os que focam uma espécie de erótica do abandono e uma evocação da morte e dos mortos. Mesmo porque As Pedras Negras (1995) é um marco difícil de superar. Tomemos este excelente exemplo do modo como o poeta pega numa "Velha Imagem" (assim se chama o poema) e em quatro versos evoca a memória no mesmo passo que o próprio mecanismo da memória: "Peso do céu que nunca dirá nada / como um golfo de morte um poço / em que não entra o balde que na casa / cortava outrora a escuridão da água" (pág. 11). A linguagem, extremamente condensada, toma essa imagem do balde que (não) entra no poço e recupera uma imagem, mas também uma impossibilidade e uma "escuridão" que é a escuridão do irrecuperável. Noutros momentos, Gastão Cruz alonga-se um pouco mais, não sem algum virtuosismo. Aqui se enuncia o trânsito impuro desta colectânea: "Releio poemas mudo-os de lugar / no livro que crescendo devagar / me exaspera, por vezes um poema / faz-me crer que prendi acaso o tema // quer ao som das palavras quer ao mundo / outros talvez como este nem ao menos / chegam ao fim ou terminados caem / no limbo conhecido de múltiplas esperas // e é o mesmo mundo que me inspira / que de dizer me impede os sons precisos / dia após dia até que (por fim ditos / os segredos no vácuo do silêncio // tanto tempo retidos, o amor / que da vida nunca se solta e é isso / que o torna algumas vezes impossível)/ a espera recomeça em novos limbos" (pág. 27)." - Pedro Mexia, Diário de Notícias
EXCERTOS
Não a primavera interior, interdita, a da casa, nascendo dentro, entrando para as ruas, memórias breves, marcas eternas subitamente extintas, dissolvendo a parte fechada dos parques, absorvendo os narcisos, em infernos exíguos, agora antigos, não a primavera definida pelos aromas fixos, de interpretação impossível, a não ser na mutação dos corpos, no conhecimento das ínfimas estrias, no futuro então explícito, nas ruas de colunas ondulando ao ar frio, não essa primavera tardia, no futuro retida, mas a revelação revista, a sucessão das ondas, como quando a primeira primavera sobre o corpo corria.
Não a primavera interior, interdita, a da casa, nascendo dentro, entrando para as ruas, memórias breves, marcas eternas subitamente extintas, dissolvendo a parte fechada dos parques, absorvendo os narcisos, em infernos exíguos, agora antigos, não a primavera definida pelos aromas fixos, de interpretação impossível, a não ser na mutação dos corpos, no conhecimento das ínfimas estrias, no futuro então explícito, nas ruas de colunas ondulando ao ar frio, não essa primavera tardia, no futuro retida, mas a revelação revista, a sucessão das ondas, como quando a primeira primavera sobre o corpo corria.
Muito bom exemplar.
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